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No coração do pelotão da Volta a Portugal: LA Alumínios-Metalusa-BlackJack

Cycling & Thoughts, juntamente para a APCP (Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais), esteve presente nos tradicionais Circuitos lusos de final de temporada, aproveitando o momento para sentir o coração dos heróis das equipas nacionais que estiveram presentes na 79ª Volta a Portugal Santander Totta.

Neste segundo artigo, de uma série de seis, falámos com sete dos elementos da equipa LA Alumínios-Metalusa-BlackJack sobre as quatro questões:

1- O que foi o melhor da Volta?
2- E o pior da Volta?
3- Com que sentimento sais desta Volta?
4- Tens algum episódio caricato ou momento marcante na Volta?

Descubram em seguida as respostas de Edgar Pinto, César Fonte, Luís Afonso, João Matias, Guillaume de Almeida, Antonio Angulo e Hugo Sancho.

 
LA Alumínios-Metalusa-BlackJack na apresentação das equipas da 79ª Volta a Portugal (© Helena Dias)

EDGAR PINTO (abandonou por queda)

1- O melhor da Volta foi sentir o carinho e apoio do público.

2- O pior foi após a queda, na segunda etapa, sentir que não poderia entrar na discussão da Volta.

3- O sentimento é de profunda frustração por não poder demonstrar o trabalho que a equipa realizou em conjunto, ao longo de vários meses, para me colocar nas melhores condições para poder discutir o pódio da Volta.

4- O momento marcante nesta Volta foi o nascimento da minha filha no dia 7, que coincidiu com o mesmo dia em que fui operado.
 
Edgar Pinto (© Helena Dias)

HUGO SANCHO (CG 11º)

1- O melhor foi o espírito de grupo que a equipa teve durante toda a Volta.

2- O pior foi a perda de uma pessoa para a corrida e para a competição. O Edgar Pinto, que eu admiro muito, era uma mais-valia para a equipa e confiávamos muito nele. Ter deixado a equipa na segunda etapa, devido àquela grave queda na chegada a Castelo Branco, foi uma grande perda.

3- Saio com o sentimento de dever cumprido e de um objectivo de época cumprido. Apesar de alguma mágoa por não termos feito um pouco melhor a nível de resultados de alcançar alguma vitória, acho que a equipa esteve bastante bem.

4- O momento que me marcou foi, depois de já ter perdido o Edgar, a chegada a Assunção. A equipa começou a confiar em mim e no César e aquela entrada em Santo Tirso foi um bocado complicada, entrei um pouco cá atrás e tive que ir ao limite para me colocar nos da frente. No momento em que ia em grande sofrimento, estavam a minha esposa e as minhas filhas na berma da estrada a puxar por mim e isso deu-me novo alento para lutar por uma boa classificação nessa etapa.
 
Hugo  Sancho (© Helena Dias)

CÉSAR FONTE (CG 15º)

1- O melhor da Volta talvez tenha sido o dia da chegada a Viana. Além de ser o dia mais especial, também foi um dia que me senti bem e estive na discussão da etapa. Senti que podia ter feito melhor, mas a chegada a Santa Luzia deve-se um bocado à colocação nas últimas curvas e eu nas últimas três curvas entrei fora e devia ter entrado mais pela parte de dentro. Perdi ali posições importantes, o que acabou por me colocar fora da discussão. Fui 5º, não é mau, mas sei que podia ter feito melhor.

2- O pior foi sem dúvida o dia da chegada a Castelo Branco. Tínhamos como objectivo levar o Edgar à discussão da Volta. Recordo-me bem na parte final do Edgar vir na minha roda, eu vir ali entre os dez primeiros, surgir a queda e ele ficar envolvido na queda. Apesar de, na altura, nem ter reparado que ele tinha ficado na queda, chegar ao fim e saber que ele ficou envolvido, ver como estava e depois saber inclusivamente que tinha de abandonar a corrida… penso que para mim e para a equipa toda foi o pior da Volta.

3- Analisando agora a Volta a Portugal, sinto-me feliz pela Volta que realizei, mas não me sinto totalmente satisfeito. Já sem falar na situação do Edgar, desde o momento que ele desistiu eu tinha como objectivo tentar vencer uma etapa, além de que a equipa me deu liberdade para tentar estar nos primeiros lugares da Volta, mas já sabia que era difícil olhando aos rivais e sabendo das minhas dificuldades era difícil fazer um top 10. Por tal, tentei focar-me em ganhar uma etapa. Não consegui alcançar esse objectivo. Se tivesse conseguido alcançar essa vitória, tinha saído completamente realizado e satisfeito. Sendo assim, faltou-me esse sabor de ganhar para sair da Volta totalmente realizado. Estive na discussão vários dias, tirando os contra-relógios fiz todas as etapas nos 20 primeiros e isto demonstra que estava bem fisicamente, que estive todos os dias entre os primeiros e acima de tudo estava bem fisicamente. Para nós que trabalhamos o ano todo e na parte final focamos os últimos dois meses na Volta a Portugal, acabo por ficar contente, porque senti que estive bem.

4- Na nossa equipa temos o Guillaume, que é um grande ciclista, faz tudo pelos colegas, mas na cabeça dele não acredita muito nas suas capacidades e, muitas vezes, quando ele vai nas fases mais a sofrer começa aos murros ao guiador, porque quer ir e não consegue. Passar por fases piores acontece a todos os ciclistas, mas eu recordo mais do que uma situação dele ir mal e começar aos murros no guiador e nós todos, principalmente quando estamos a jantar, lembramo-nos dessas situações e é das mais faladas na equipa. É um momento que não tem assim muita graça para ele, mas para nós acaba por ser um momento de risota.
 
César Fonte (© Helena Dias)

LUÍS AFONSO (CG 19º)

1- O melhor da Volta foi poder subir ao pódio com a minha filha.

2- O pior foi o abandono do Edgar. Foi uma perda muito grande. Tínhamos estado todos juntos cerca de um mês na Serra da Estrela e tínhamos muita confiança no Edgar. Trabalhámos afincadamente para estar bem e estar ao lado dele até onde fosse possível. Certamente, muitas coisas podiam passar-se na Volta, mas ele ia estar ali nos lugares cimeiros e ia ter uma equipa ao lado dele para o defender. Para nós foi o pior momento.

3- Saio orgulhoso da Volta, porque este ano trabalhei de forma diferente. Estava mais motivado, consegui entrar mais magro e penso que foi a Volta onde obtive melhor rendimento. Tanto de início como ao fim, penso que mantive um bom rendimento. Esta foi a Volta em que me senti melhor.

4- O momento caricato foi quando entrei na fuga com o russo Egor Silin. Nós tínhamos um minuto e meio e, de um momento para o outro, ele começou a atacar e só me disse: “Eu não preciso disto para nada e quero é ir para a praia”. Foi a única explicação que ele me deu.
 
Luís Afonso (© Helena Dias)


ANTONIO CHAVITA ANGULO (CG 56º)

1- Uma das melhores coisas da Volta foi sentir-me tão acarinhado pelo público, tanto nas partidas como durante todo o percurso e nas chegadas. Foram impressionantes.

2- Uma das piores coisas que tivemos foi a queda do Edgar. Estava tudo focado para que ele disputasse a geral e no segundo dia teve que abandonar.

3- Saio com um sentimento bom. Nunca tinha realizado uma volta tão longa e tive dias em que senti que podia dar algo à equipa e estar nos lugares cimeiros.

4- Durante a Volta rimos muito e o ambiente foi incrível. Algum episódio caricato? No dia de descanso, um companheiro quis fazer “tras coche” [meio fundo] e eu animei-me durante uns minutos. Quando dei a volta para ir ter com os meus companheiros, eles tinham virado por outra estrada e tocou-me guiar-me pelo GPS para voltar ao hotel.
 
Antonio Chavita Angulo (© Helena Dias)


GUILLAUME DE ALMEIDA (CG 74º)

1- O melhor da Volta para mim foi poder participar, porque no princípio do ano estava sem equipa e tive a sorte de ser contratado pela LA Alumínios-Metalusa-BlackJack no mês de Maio.

2- O pior foi a queda e abandono do Edgar Pinto, que era o nosso líder e eu vinha para o ajudar ao máximo. A Volta já não foi a mesma desde esse momento.

3 - Saí com o sentimento de dever cumprido. Dei tudo o que tinha para dar à equipa, mesmo não estando na minha melhor forma, devido a não ter feito toda a época.

4- Um momento marcante para mim foi o meu colega Luís Afonso "Pisco" ter de acabar a correr a pé ao lado da bicicleta na chegada à Nossa Sra. da Assunção, depois do boyau se ter descolado da roda nos últimos 300 metros.
 
Guillaume de Almeida (© Helena Dias)


JOÃO MATIAS (CG 77º)

1- A nível pessoal, o melhor foi estar seis vezes no pódio com a camisola azul. De início foi de muita surpresa, porque não sabia o que podia esperar da Volta. A verdade é que me preparei bem e estava na melhor forma da minha vida, mas nunca pensei andar tantos dias de camisola azul. Quando a vesti, pensei que ia ser por um dia ou dois, mas segurar durante tantos dias e estar quatro dias na fuga foi um sentimento muito especial e ainda não tenho muitas palavras para descrever esses momentos que vivi na Volta.

2- O pior foi a queda do Edgar Pinto.

3- Saio muito feliz da Volta, com muito orgulho no trabalho que fiz e com muita ambição para o futuro.

4- Houve muitos episódios, mas se calhar o momento em que soube que ia vestir a camisola azul, a reacção dos adversários e de toda a gente que me conhece, foi o mais marcante.

João Matias (© Helena Dias)

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