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Volta a Portugal: Quatro etapas para descobrir o vencedor da amarela

Sete dias passaram desde o início da 79ª Volta a Portugal Santander Totta. Percorridos 1100,8 km, a W52-FC Porto impôs-se como a mais forte equipa da competição com Raúl Alarcón a vestir a camisola amarela desde o final da primeira etapa. A seu lado no Top 10 conta com três companheiros: Amaro Antunes em 3º, Gustavo Veloso em 5º e António Carvalho em 7º lugar. A menos de 1 minuto mantêm-se como principais rivais Rinaldo Nocentini (Sporting-Tavira) em 2º e Vicente de Mateos (Louletano-Hospital de Loulé) em 4º. Neste dia de descanso, os ciclistas só pensam chegar a Viseu.
 
Camisola amarela da 79ª Volta a Portugal Santander Totta (© Helena Dias)

Esta sexta-feira, o pelotão da Volta vive o dia de descanso. Um dia para fortalecer objectivos delineados, repensar estratégias e tentar amenizar o cansaço e as feridas das duras quedas que assolaram diversos ciclistas.

Recuando nos dias até ao início da 79ª edição da prova rainha, na apresentação das equipas realizada em Belém, as 18 equipas falaram das suas metas para esta Volta, destacando-se as 6 continentais portuguesas na luta pela classificação geral. Gustavo Veloso (W52-FC Porto), Sérgio Paulinho e Henrique Casimiro (Efapel), Rui Sousa (RP-Boavista), Edgar Pinto (LA Alumínios-Metalusa-BlackJack), Rinaldo Nocentini e Alejandro Marque (Sporting-Tavira) e Vicente de Mateos (Louletano-Hospital de Loulé) apresentaram-se como sendo os homens em busca da camisola amarela. A quatro etapas do final, nem todos continuam na senda da vitória.

A W52-FC Porto destacou-se em grande escala na primeira parte da Volta. Em sete possíveis vitórias, a equipa azul e branca alcançou quatro triunfos em etapa com Raúl Alarcón em duas, Samuel Caldeira e Gustavo Veloso.

Alarcón chegou à liderança depois de vencer a primeira etapa em linha, em Setúbal. Desde esse momento, segurou a amarela com unhas e dentes, vencendo mais uma etapa na mítica chegada à Sra. da Graça. Numa temporada sem precedentes em vitórias, Alarcón soma 9 triunfos pessoais, entre eles a Vuelta Asturias e o Grande Prémio JN. Poderá somar no dia 15 de Agosto a mais importante vitória da sua carreira, se vestir a amarela em Viseu.

Mas os trunfos da W52-FC Porto não se esgotam em Alarcón. O reafirmado líder da equipa Gustavo Veloso continua na luta pela terceira vitória da Volta, querendo repetir o sucesso alcançado em 2014 e 2015. Depois de um início de Volta não tão forte como o esperado, terminando em 12º no contra-relógio inaugural, Veloso tem vindo a subir na geral, tendo a vitória no alto de Santa Luzia ajudado a encurtar a distância para o primeiro lugar, estando agora a 39 segundos da amarela, uma margem que poderá facilmente apagar no contra-relógio final de 20,1 km em Viseu.

Pelo meio há ainda que contar com Amaro Antunes. O líder do Ranking APCP Ciclista do Ano encontra-se a 30 segundos da amarela, tendo finalizado duas etapas em 2º lugar e deixando a impressão que se quisesse tinha ganho na Sra. da Graça, não fosse estar a trabalhar para Alarcón.

A esquadra dirigida por Nuno Ribeiro tem protagonizado etapas demolidoras para os demais adversários, fazendo da união do seu bloco a força maior para escrever a história desta Volta a seu bel-prazer. O trabalho de todos os elementos tem sido exímio no desgaste do pelotão, através dos pedais de Ricardo Mestre, António Carvalho, Rui Vinhas, Samuel Caldeira e Joaquim Silva. O poderio da equipa reflecte-se também no primeiro lugar no colectivo.

Apesar da superioridade demonstrada até então, não se deve desvalorizar os adversários, destacando-se o italiano Nocentini em 2º da geral, a uma distância de 24 segundos. Este ano mais forte do que na edição transacta, onde foi afectado por uma queda na primeira etapa, tem-se mantido a um lugar da amarela desde a chegada à Sra. da Graça, onde foi 3º. Numa temporada feita de importantes pódios e a vitória de etapa na Volta ao Alentejo, tem no contra-relógio final a maior dificuldade face ao especialista Veloso.

Na equipa Sporting-Tavira, o vencedor da Volta de 2013 Alejandro Marque sofreu um revés na etapa antecedente ao dia de descanso. Quando ocupava o 4º lugar na geral, a somente 35 segundos da amarela, Marque representava um forte perigo para a W52-FC Porto, dada a sua qualidade no contra-relógio. Era imperial distanciá-lo e foi isso que os azuis e brancos fizeram na sexta etapa, desferindo um ataque, ao qual Marque tudo fez para minimizar o estrago, que resultou na descida a 10º da geral, a 1 minuto e 56 segundos.

Desta forma, a equipa dirigida por Vidal Fitas ficou apenas com Nocentini na luta pelo primeiro lugar, sendo ainda de destacar a performance de Frederico Figueiredo, não fossem as quedas a privarem-no dos lugares cimeiros.

No lote de candidatos à amarela, o espanhol Vicente de Mateos encontra-se em 4º na geral, a 34 segundos, tendo um papel bastante activo na luta pelo máximo objectivo de conquistar a amarela. Por cinco vezes terminou entre os cinco primeiros na meta, sendo 2º no alto de Santa Luzia e em Fafe. Tem estado perto de repetir o triunfo em etapas alcançado em 2015 e 2016, antevendo-se uma luta até ao final pelo pódio da Volta.

Na esquadra Louletano-Hospital de Loulé, dirigida por Jorge Piedade, há ainda a destacar o protagonismo de Hélder Ferreira na etapa da Sra. da Graça, que tudo fez para chegar em primeiro à meta, ciclista que nos últimos anos se manteve a pulso no pelotão conciliando os estudos com esta exigente profissão.

Também a Efapel tem estado diariamente na luta. Henrique Casimiro e Sérgio Paulinho dividem uma liderança, que os mantém nos primeiros dez da geral, lado a lado em 8º e 9º respectivamente. A camisola amarela avista-se a 1 minuto e 40 segundos de Casimiro e 1 minuto de 48 segundos de Paulinho, assinalando-se a vontade com que a esquadra tem perseguido a manutenção nos primeiros lugares da geral e das etapas com Daniel Mestre, que se encontra em 11º na geral e foi por duas vezes 3º na disputa das linhas de meta, mesmo sem o seu exímio lançador, Rafael Silva, que tem sido um lutador ao permanecer em prova com 17 pontos no corpo [14 nas costas e 3 no braço].

No que respeita aos panteras da RP-Boavista, Rui Sousa viu o eterno sonho de conquistar a camisola amarela fugir na Sra. da Graça, quando desceu a 20º na geral. A persistência dos seus 41 anos de idade e 20 de carreira não o deixou baixar os braços, pedalando então por uma vitória em etapa, que chegou de modo triunfal em Fafe, depois da jornada a integrar a fuga do dia e de desferir um decisivo ataque na terra batida do troço do Rali de Portugal. No final desta sexta etapa, subiu a 12º na geral, a uma distância de 2 minutos e 50 segundos.

A equipa dirigida pelo Prof. José Santos ficou com João Benta na luta pelos lugares cimeiros, estando em 6º lugar a 1 minuto e 28 segundos, numa Volta em que se tem destacado junto aos mais fortes com três lugares no Top 10 das etapas. A destacar também o jovem Luís Gomes, que no ano de estreia na Volta persegue a camisola da juventude encontrando-se no 2º lugar desta classificação e em 21º na geral. Já Filipe Cardoso tentou repetir o triunfo de 2015 na Sra. da Graça, valendo-lhe o prémio da combatividade. Quanto ao campeão nacional de contra-relógio, Domingos Gonçalves viu a vitória no prólogo fugir por 2 segundos.

A LA Alumínios-Metalusa-BlackJack foi quem sofreu o maior revés nesta Volta, ao perder o seu líder Edgar Pinto, em consequência de queda na segunda etapa. Desde então, César Fonte passou a ser o homem forte para a geral, mas uma performance menos forte na sexta etapa levou-o a descer a 18º, a uma distância de 7 minutos e 16 segundos. Hugo Sancho passou então a ser o melhor colocado na geral, em 14º a 3 minutos e 44 segundos.

A presença da equipa dirigida por José Silva não se tem extinguido na luta pela geral, já que na montanha tem sido bastante activa. Primeiramente com César Fonte, a camisola azul passou para João Matias ao final da terceira etapa, demonstrando uma forte intenção em levar para casa o título de rei da montanha, neste seu ano de estreia na Volta. Luís Afonso também não faltou no pódio, ao obter o prémio da combatividade na quinta etapa.

O pelotão da 79ª Volta a Portugal Santander Totta não é feito apenas de equipas lusas, destacando-se entre aos grupos estrangeiros a francesa Armée de Terre, que vestiu a primeira camisola amarela no corpo de Damien Gaudin, vencedor do prólogo. À imagem do sucedido no Troféu Joaquim Agostinho, contam já com duas vitórias em etapas, também por intermédio de Bryan Alaphilippe, irmão da estrela do WorldTour Julian Alaphilippe (Quick-Step Floors).

A Volta recebe talentos no seu pelotão e Gaudin é exemplo disso, tendo a equipa Pro Continental Direct Energie anunciado este dias a sua contratação para 2018. Um francês de 30 anos que já passou pela Bouygues Telecom, Europcar e AG2R La Mondiale, onde foi companheiro de equipa de Nocentini.

A única esquadra Pro Continental do pelotão da Volta, a Israel Cycling Academy, também tem deixado a sua marca não só no protagonismo em fugas como também com Krists Neilands, líder da camisola branca da juventude. O campeão nacional de fundo da Letónia e bronze em contra-relógio brilhou ainda este ano com uma vitória de etapa no Tour d’Azerbaïdjan. Na Volta foi 2º em Bragança e 4º no alto de Santa Luzia, encontrando-se em 16º na geral.

O espanhol Mikel Bizkarra (Euskadi-Murias) e o suíço Patrick Schelling (Team Vorarlberg) também se destacaram nesta Volta, em 13º e 17º na geral, tendo o ciclista basco finalizado num assinalável 10º lugar na etapa da Sra. da Graça.

Há ainda o mais experiente ciclista desta Volta, o italiano Davide Rebellin (Kuwait-Cartucho.es), que fez 46 anos durante a prova lusa. Depois de estar durante três dias a fechar o Top 10 da geral, ocupa agora o 22º lugar, não tendo ainda alcançado o objectivo a que se propôs de conquistar uma etapa. A sua carreira fala por si, tendo no seu palmarés a vitória de Liège-Bastogne-Liège, Tirreno-Adriatico, Amstel Gold Race, Paris-Nice, três Fléche Wallonne, dois Giro dell’Emilia, Tre Valli Varesine e Tour Méditerranéen, além de 19 presenças nas grandes voltas, onde ganhou uma etapa no Giro d’Italia de 1996, em Monte Sirino.

Depois deste dia de descanso, restam quatro etapas na linha do horizonte do pelotão da Volta, entre elas a chegada em alto ao Santuário de Nossa Sra. da Assunção na sétima etapa, Oliveira de Azeméis na oitava etapa, a passagem pela Torre na nona etapa com chegada de 3ª categoria na Guarda e, por último, o contra-relógio final em Viseu.

Classificação Geral a quatro etapas do final:
1º Raúl Alarcón (Esp) W52-FC Porto 28:09:22
2º Rinaldo Nocentini (Ita) Sporting-Tavira +24s
3º Amaro Antunes (Por) W52-FC Porto +30s
4º Vicente de Mateos (Esp) Louletano-Hospital de Loulé +34s
5º Gustavo Veloso (Esp) W52-FC Porto +39s
6º João Benta (Por) RP-Boavista +1:28s
7º António Carvalho (Por) W52-FC Porto +1:35s
8º Henrique Casimiro (Por) Efapel +1:40s
9º Sérgio Paulinho (Por) Efapel +1:48s
10º Alejandro Marque (Esp) Sporting-Tavira +1:56s
11º Daniel Mestre (Por) Efapel +2:48s
12º Rui Sousa (Por) RP-Boavista +2:50s
13º Mikel Bizkarra (Esp) Euskadi-Murias +3:37s
14º Hugo Sancho (Por) LA Alumínios-Metalusa-BlackJack +3:44s
15º Ricardo Mestre (Por) W52-FC Porto +5:23s
16º Krists Neilands (Lat) Israel Cycling Academy +6:54s
17º Patrick Schelling (Sui) Team Vorarlberg +7:14s
18º César Fonte (Por) LA Alumínios-Metalusa-BlackJack +7:16s
19º Egor Silin (Rus) RP-Boavista +7:26s
20º Bruno Silva (Por) Efapel +7:43s

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