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No coração do pelotão da Volta a Portugal: W52-FC Porto

Cycling & Thoughts, juntamente para a APCP (Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais), esteve presente nos tradicionais Circuitos lusos de final de temporada, aproveitando o momento para sentir o coração dos heróis das equipas nacionais que estiveram presentes na 79ª Volta a Portugal Santander Totta.

Neste segundo artigo, de uma série de seis, falámos com os oito elementos da equipa vencedora W52-FC Porto sobre as quatro questões:

1- O que foi o melhor da Volta?
2- E o pior da Volta?
3- Com que sentimento sais desta Volta?
4- Tens algum episódio caricato ou momento marcante na Volta?

Descubram em seguida as respostas do vencedor Raúl Alarcón, Rui Vinhas, Ricardo Mestre, António Carvalho, Gustavo Veloso, Joaquim Silva, Samuel Caldeira e Amaro Antunes.
 
W52-FC Porto na apresentação das equipas da 79ª Volta a Portugal (© Helena Dias)

RAÚL ALARCÓN (CG 1º)

1- O melhor da Volta foi sentir o carinho das pessoas e o reconhecimento do meu trabalho, depois de tantos anos a trabalhar para os demais.

2- É impossível dizer alguma coisa.

3- É um acumular de emoções e sentimentos, que não se conseguem descrever.

4- O momento inesquecível foi vestir pela primeira vez a camisola amarela em Setúbal. Foi muito emocionante e o final em Viseu celebrando a Volta no pódio com os companheiros.

Raúl Alarcón (© Helena Dias)

AMARO ANTUNES (CG 2º)

1- O melhor foi a equipa ganhar.

2- Creio que não posso apontar coisas piores. Houve um dia ou outro que tive sensações menos boas, mas isso faz parte de uma corrida longa. No geral, penso que foi tudo muito positivo para a equipa.

3- Saí com o sentimento de dever cumprido, porque fui um atleta sempre útil ao director desportivo e consegui fazer tudo aquilo que ele me propôs na perfeição.

4- Principalmente na etapa da Serra da Estrela, porque sinceramente nunca pensei que pudéssemos chegar com aquela diferença tão grande. Creio que foi uma etapa que jamais irei esquecer, por toda a estratégia que montámos e as coisas terem corrido na perfeição.

Amaro Antunes (© Helena Dias)

ANTÓNIO CARVALHO (CG 6º)

1- Acima de tudo, foi ver que o corpo reagiu bem ao estágio realizado. Estive a um grande nível e acabámos por vencer a Volta a Portugal, que era o mais importante para mim e para a equipa.

2- Não sei dizer um momento pior, ao contrário do ano passado, que já nem queria ir à Volta a Portugal. Este ano não tenho nenhum momento negativo. Poderá ter sido o prólogo, já que no primeiro dia não me encontrei bem. Só tinha andado duas vezes na ‘cabra’ e fui sempre muito instável durante o percurso. E talvez os dois dias a seguir ao descanso, que não estive bem, porque apanhei um pequeno vírus no estômago e foram dias complicados.

3- Saí muito orgulhoso do que acabei por alcançar, um 6º lugar, por ter sido uma peça fundamental na vitória do Raúl Alarcón e da equipa e, apesar de todo o trabalho que tive na etapa de Castelo Branco e na etapa de Bragança, ainda conseguir chegar aos outros dias ao nível que estive. Nem eu pensava estar tão bem e isso deixa-me muito orgulhoso.

4- Não tenho nenhum momento caricato, pelo menos que me recorde. O único momento que tenho marcante é o momento do Gustavo ter ficado na Serra da Estrela e eu esperar por ele, como é lógico é o chefe de fila. Só tinha que fazê-lo, porque ele era o ciclista que dava mais garantias e até por aspectos anímicos, pois foi um ciclista que sempre me disse muito e continua a dizer. É uma excelente pessoa, quer em cima da bicicleta quer fora, e eu ali não o podia abandonar. Era o meu colega de quarto, falámos muito, deu-me muitos conselhos na Volta e eu ali, a pedido do Nuno [Ribeiro, director desportivo], fiquei com ele. Só que depois ele viu que eu poderia ser importante mais à frente na equipa, porque já só levávamos dois ciclistas mais o Mestre, e ele mandou-me tentar chegar à frente. Felizmente consegui, mas poderia não ter consigo, porque era uma zona a chegar à Lagoa e se não conseguisse chegar nessa altura, já não chegava mais.

António Carvalho (© Helena Dias)

RICARDO MESTRE (CG 16º)

1- O melhor foi termos ganho e feito segundo.

2- O pior foi ter caído.

3- Saí com o sentimento de dever cumprido. Penso que fiz bem o papel que tinha a fazer na Volta. Senti que cheguei em boa condição e consegui terminar bem a Volta. Saí bastante motivado para continuar a trabalhar para o futuro.

4- Para mim, o episódio mais relevante foi quando tive a saída de estrada. De resto, penso que não houve mais nada.

Ricardo Mestre (© Helena Dias)

GUSTAVO VELOSO (CG 24º)

1 e 2- Na etapa da Guarda vivi o melhor e o pior da Volta. O pior está claro, nesse dia perdi a Volta. Mas ao mesmo tempo, nesse dia vi que muita gente me valoriza e respeita como desportista e como pessoa, desde adeptos e colegas de equipa até adeptos de outras equipas e rivais na estrada. Acho que essa é a parte mais bonita deste desporto. Só tenho palavras de agradecimento para todas essas pessoas, que me apoiaram nos maus momentos, porque nos bons momentos toda a gente apoia.

3- Não sei. Agridoce, mas de consciência tranquila e satisfeito com o meu rendimento, apesar do empeno na Torre. Ganhar no dia a seguir o crono fez-me ver que realmente eu estava em boa condição.

4- No último dia em Viseu, no crono, levava uns animadores especiais: os meus filhos vieram no carro que me seguiu no crono. Cada vez que o Nelson falava comigo pelo rádio, ouvia-os a berrar “¡Vamos Papi!” É a primeira vez que eles me vêem desde o carro, acho que não vão esquecer a experiência.

Gustavo Veloso (© Helena Dias)

RUI VINHAS (CG 45º)

1- O melhor foi a vitória do Alarcón. Em termos colectivos, penso que estivemos bem. Cumprimos os nossos objectivos, mais um ano e mais uma vitória. Foi bastante positivo para a equipa.

2- O pior foi o meu rendimento, estive um bocado aquém. Pensava que ia estar melhor e não consegui, devido a um problema de saúde. Há anos e anos. O ano passado tive um ano bom, este ano foi menos bom. Até à Volta tive uma boa época de resultados, mas na Volta não foi como eu esperava. Quatro ou cinco dias antes da Volta tive uma gastroenterite, perdi bastante peso e isso afectou-me por ficar bastante magro e o rendimento não ser o mesmo. Em termos psicológicos também não estava bem, estava com bastante ansiedade e um pouco de pressão. Acho que paguei bastante a factura, paguei bastante caro, mas são anos e para o ano lá estarei a encarar a Volta da melhor forma.

3- Saio com um bom sentimento. O Alarcón é como se fosse um irmão para mim e a vitória dele foi algo espectacular para mim. O ano passado ganhei eu e ele ficou bastante feliz, este ano ganhou ele e fico bastante feliz por ele. O nosso objectivo era a equipa ganhar e acabando por ser ele tem um significado ainda maior, porque já partilhamos equipa desde 2013 e foi algo espectacular.

4- O último dia na festa, aquela brincadeira toda, uns copinhos a mais e andar ali aos gritos e a pular. Eu passei a Volta toda um pouco em baixo em termos psicológicos. Não estava bem comigo, sentia que devia estar a render mais e não conseguia. Queria estar ao lado dos meus colegas e não conseguia. Andava um bocadinho desanimado e quando assim é afastamo-nos de muita coisa boa, fechamo-nos mais em nós e acabou por me acontecer muito isso. Por isso, acho que a festa foi a melhor parte da Volta. E melhor que isso foi mesmo a vitória do Alarcón.

Rui Vinhas (© Helena Dias)

SAMUEL CALDEIRA (CG 48º)

1- Ter conseguido o meu primeiro triunfo numa etapa, que já perseguia há muito tempo.

2- Os problemas gástricos que tive na 7ª e 8ª etapas, mas felizmente consegui resistir.

3- Saio com o sentimento de todos os objectivos cumpridos!

4- O episódio marcante, que nunca mais vou esquecer, foi quando o meu filho de 4 anos chegou perto de mim quando eu ganhei a etapa. Ele tremia de emoção e fiquei muito feliz a ver a felicidade dele naquele momento!

Samuel Caldeira (© Helena Dias)

JOAQUIM SILVA (CG 75º)

1- Penso que o melhor momento foi mesmo termos a vitória do Raúl. Apesar do Gustavo ter tido um mau dia, penso que temos de estar contentes com a Volta que fizemos.

2- Para mim, o pior foi o dia de Fafe. Apesar de ir num grupetto grande, foi o dia em que passei pior e com maior sacrifício para chegar à meta.

3- Saio da Volta com o sentimento de dever cumprido. Trabalhámos desde o segundo dia em prol da camisola amarela e conseguimos esse objectivo. No final, em três anos foi a Volta em que tive as melhores sensações em termos físicos. Foi a Volta em que tive mais trabalho e só tenho que sair contente, porque consegui cumprir aquilo que me foi pedido.

4- Destaco os momentos quando íamos para as partidas. Naquela etapa da Guarda, o pessoal estava um bocado nervoso e eu e o Nelson, o motorista, fizemos o favor de meter a música alta e desfrutar um bocado daquele momento. Tentámos animar o pessoal e fazer com que eles entrassem na etapa mais animados e com mais garra. Não sei se foi esse ou não o motivo da vitória, mas penso que sempre ajuda ter alguém a fazer isso. Às vezes, acordamos a pensar naquilo que vai acontecer e se fosse ao contrário também gostava que o fizessem por mim.


Joaquim Silva (© Helena Dias)

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