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Análise à estreia de Rui Costa no Giro d'Italia

O ciclista português Rui Costa fechou a sua participação no Giro d’Itália em 27º da geral, nesta que foi a sua nona presença num Grand Tour, sendo oito realizadas no Tour de France. Aos 30 anos, o campeão do mundo de Florença estreou-se na Corsa Rosa como líder da UAE Team Emirates, ficando perto de alcançar a vitória em três etapas ao cruzar a meta em 2º. No lugar mais alto do pódio ficou Tom Dumoulin (Team Sunweb), primeiro holandês a conquistar o Giro.

Rui Costa chegou à 100ª edição do Giro com o objectivo declarado de alcançar a vitória numa etapa. A esquadra UAE Team Emirates atingiu esse objectivo na chegada ao Etna, com a vitória do esloveno Jan Polanc, ao mesmo tempo que o ciclista luso se aproximou do Top 10 da geral, meta nunca declarada por Rui Costa, mas esperada por quem acompanha a sua carreira.

 
Rui Costa no Giro d'Italia 2017 (© Bettini)

Encontrando-se em 14º na geral ao final da 12ª jornada, Rui Costa viu o Top 10 distanciar-se na chegada a Bergamo, descendo para a 17ª posição na 15ª etapa e a 16m52s do maglia rosa Tom Dumoulin (Team Sunweb), sendo o 10º lugar ocupado na altura por Steven Kruijswijk (LottoNL-Jumbo) a 7m03s do líder.

Com os lugares cimeiros da geral cada vez mais difíceis de alcançar, Rui Costa persistiu na luta pela vitória de uma etapa, protagonizando ao longo do Giro uma busca incessante por esse objectivo, entrando nas fugas decisivas que estiveram na discussão das jornadas de um Giro desgastante, marcado por inúmeras etapas com mais de 200 km de extensão, num total de 3.612,1km.

Depois de ser 2º na chegada a Bagno di Romagna, jornada de montanha superado na linha de meta da 11ª etapa por Omar Fraile (Dimension Data), espanhol que ficou em 3º na classificação da montanha, Rui Costa entrou novamente na fuga da etapa rainha (16ª etapa), mas a dureza das rampas do Mortirollo, Stelvio e Giogo di Santa Maria foram mais fortes do que a sua vontade. A inabalável persistência do ciclista luso levou-o a entrar novamente na fuga do dia seguinte (17ª etapa), repetindo em mais uma jornada de montanha o 2º lugar na meta em Canazei, onde o francês Pierre Rolland (Cannondale-Drapac) triunfou com 24s de vantagem para o grupo perseguidor liderado pelo ciclista luso.

Rui Costa não baixou os braços e, numa edição onde demonstrou toda a sua capacidade combativa e lutadora, impôs uma vez mais a sua presença na fuga decisiva da 19ª jornada. O líder da UAE Team Emirates cruzou a meta novamente em 2º, vendo uma vez mais a vitória negada na chegada em alto de 1ª categoria a Piancavallo, onde o vencedor do dia Mikel Landa (Team Sky) se mostrou mais forte na subida de 15,4 km de extensão com pendente máxima de 14%, realçando-se o facto do espanhol ter ganho a camisola da montanha nesta 100ª edição.

Três etapas finalizadas em 2º lugar, inúmeros quilómetros em fuga, trabalho de apoio à manutenção do companheiro Jan Polanc nos primeiros lugares da geral (finalizou em 11º CG). Esta foi a estreia no Giro d’Italia protagonizada por Rui Costa, que se bateu nas linhas de meta com os melhores nomes do pelotão internacional, mostrando na estrada fortes argumentos que explicam o alto lugar que ocupa no pelotão internacional e na UAE Team Emirates.

Muitas questões se têm levantado quanto à capacidade de Rui Costa enfrentar os Grand Tour. Contra algumas críticas levantadas quanto à gestão da sua carreira e a presença em grandes voltas, o campeão do mundo de 2013 respondeu comprovando novamente a sua capacidade de lutar pela vitória ao mais alto nível internacional, naquela que é considerada por muitos a mais dura das três grandes voltas. A vitória não chegou por falta de capacidade ou menor qualidade face aos seus adversários, mas sim por Fraile, Rolland e Landa conhecerem a perigosidade de Rui Costa e não se deixarem surpreender na ponta final das jornadas. Aliás, assinala-se o facto de se ter dado a conhecer que dos carros dos directores desportivos se chamou a atenção para a perigosidade da presença de Rui Costa na fuga, sendo ele um elemento a ter sob vigilância para a luta pela etapa.

Por muito pouco não juntou uma vitória no Giro ao seu palmarés, onde figuram três etapas conquistadas no Tour de France, precisamente a 8ª jornada em 2011 na chegada a Super-besse Sancy, 16ª e 19ª jornadas em 2013 nas chegadas a Gap e Le Grand Bornand.

Na temporada de 2017, Rui Costa soma a vitória da etapa rainha na Vuelta Ciclista a la província de San Juan e 5º na geral, vitória da etapa rainha e da geral do Abu Dhabi Tour, 2º no Tour of Oman e por duas vezes 2º em etapas, 14º na Liège-Bastogne-Liège, 18º em Tirreno-Adriatico, 27º no Giro d’Italia, 31º na Flèche Wallonne e 38º na Amstel Gold Race. Para além das duas vitórias referidas, conta ainda com seis pódios em etapas.

Numa breve lembrança dos pontos altos da história dos portugueses no Giro, recordamos José Azevedo, actual director da Katusha-Alpecin, que alcançou em 2001 o melhor resultado de sempre na geral com o 5º lugar. Mas Acácio da Silva foi o maior triunfador ao vencer 5 etapas, entre 1982 e 1993, sendo a mais marcante em 1989 na chegada da segunda etapa ao Monte Etna, envergando por dois dias a maglia rosa. Acácio da Silva teve como melhor resultado na geral o 7º lugar em 1986. Em 1995, Portugal teve a única participação de uma equipa 100% lusa, a Sicasal-Acral com Quintino Rodrigues (CG 41º), Joaquim Gomes, Serafim Vieira, Manuel Abreu, Carlos Pinho e Pedro Silva. Ao longo dos últimos anos lutaram na Corsa Rosa André Cardoso (Trek-Segafredo), que se destacou em 2016 no 14º lugar da geral, Tiago Machado (Katusha-Alpecin), que foi 19º em 2011, Nelson Oliveira (Movistar Team), Ricardo Mestre (W52-FC Porto), Sérgio Paulinho (Efapel), Fábio Silvestre (Sporting-Tavira), Bruno Pires e Manuel Cardoso.

Em 2017, a presença lusa fez-se pelos pedais de Rui Costa (UAE Team Emirates) a fechar em 27º na geral (+1:33:17s); o campeão nacional José Mendes (BORA-hansgrohe) finalizou em 48º (+2:23:54s), tendo a sua equipa conquistado a primeira etapa e vestido a maglia rosa com Lukas Pöstlberger; e José Gonçalves (Katusha-Alpecin) terminou em 60º (+2:38:06s), tendo a sua equipa terminado em 5º com Ilnur Zakarin.

Vencedores Camisolas Giro d’Italia 2017
Geral » Tom Dumoulin (Team Sunweb)
Pontos » Fernando Gaviria (Quick-Step Floors)
Montanha » Mikel Landa (Team Sky)
Juventude » Bob Jungels (Quick-Step Floors)
Equipas » Movistar Team

Vencedores Etapas Giro d’Italia 2017
Et1 » Lukas Pöstlberger (BORA-hansgrohe)
Et2 » André Greipel (Lotto Soudal)
Et3 » Fernando Gaviria (Quick-Step Floors)
Et4» Jan Polanc (UAE Team Emirates)
Et5 » Fernando Gaviria (Quick-Step Floors)
Et6 » Silvan Dillier (BMC)
Et7 » Caleb Ewan (Orica-Scott)
Et8 » Gorka Izagirre (Movistar Team)
Et9 » Nairo Quintana (Movistar Team)
Et10 » Tom Dumoulin (Team Sunweb)
Et11 » Omar Fraile (Dimension Data)
Et12 » Fernando Gaviria (Quick-Step Floors)
Et13 » Fernando Gaviria (Quick-Step Floors)
Et14 » Tom Dumoulin (Team Sunweb)
Et15 » Bob Jungels (Quick-Step Floors)
Et16 » Vincenzo Nibali (Bahrain Merida)
Et17 » Pierre Rolland (Cannondale-Drapac)
Et18 » Tejay Van Garderen (BMC)
Et19 » Mikel Landa (Team Sky)
Et20 » Thibaut Pinot (FDJ)
Et21 » Jos van Emden (LottoNL-Jumbo)

Rui Costa com Bruno Lima, UAE Team Emirates no Giro d'Italia 2017 (© Bettini)

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