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Joni Brandão, retrato de um ganhador nato

Para quem o conhece de perto, Joni Brandão é descrito como um ganhador nato. Aos 25 anos, o ciclista luso ganhou a liderança bicéfala da Efapel juntamente com o galego Alejandro Marque na abordagem à Volta a Portugal. A dupla fechou em 2º e 3º da geral, com Brandão a consolidar fortemente o título de possível vencedor nos anos vindouros.

Joni Brandão é um ciclista discreto aos olhares estranhos, mas flamejante na estrada. Sobressai pela forma aguerrida e destemida com que se entrega às corridas, o oposto ao ar reservado fora da bicicleta. Descrito por quem o conhece como tendo um carácter forte e directo, reservado com quem não conhece, capaz de virar o mundo do avesso se é alvo de algum atropelo injusto na sua profissão. Um talento bruto para quem os êxitos alcançados não caíram do céu, mas foram sim fruto de uma vontade própria bastante demarcada. Embora companheiro, esta forte personalidade faz sobressair a essência de liderança que brota a cada pedalada. Nem todos os ciclistas emanam esta força de líder, Joni Brandão transmite essa energia mesmo à distância.

Joni Brandão, 2º na Volta a Portugal 2015 (© Helena Dias)
A Volta a Portugal dá aos ciclistas uma dimensão totalmente diferente das restantes provas. Por ser a rainha das competições nacionais, quem brilha no seu palco converte-se numa estrela resplandecente do pelotão. Uma etapa conquistada a duros golpes de pedal, uma combatividade enaltecida pela luta por uma fuga, a abnegação do trabalho devotado à equipa ou a batalha diária pela vitória da amarela são alguns dos factores que podem incendiar os olhares dos espectadores perante um determinado corredor. Na 77ª edição, os olhares fixaram-se no 2º lugar do pódio: Joni Brandão viu o factor da luta pela geral trazer sobre si uma expectativa elevada.

O ano de 2011 marca a última vez que um português conquistou a prova mais importante do calendário e, a cada ano que passa, a busca por um sucessor de Ricardo Mestre (Team Tavira) na vitória da camisola amarela torna-se mais latejante no coração dos portugueses. Os triunfos de Blanco, Marque e Veloso encerram em si um pedaço lusitano, pois há muito que estes galegos arrebataram o coração dos fãs lusos pela sua entrega ao ciclismo nacional. Contudo, a busca por um novo herói luso, capaz de tomar para si a Volta, é incessante e Joni Brandão deixou na Volta de 2014 a notória promessa de ser capaz deste notável feito ao finalizar em 4º numa edição em muito semelhante à de 2015, com Gustavo Veloso e a equipa de Sobrado W52-Quinta da Lixa a mostrar-se imbatível perante os adversários.

Entre esses adversários, Joni Brandão sobressaiu pelas excepcionais qualidades demonstradas na luta pela geral. Os últimos anos têm revelado que para conquistar a Volta é necessário unir dois factores cruciais: superar com brilhantismo as míticas jornadas de montanha não descurando o papel relevante que o contra-relógio individual toma na luta pelo lugar mais desejado do pódio.

Olhando às duas últimas edições, a montanha correu-lhe de feição com o pódio sempre presente. No Alto da Torre foi 2º em 2014 e 3º este ano. Na Sra. da Graça inverteu os lugares sendo 3º no ano transacto e 2º em 2015, cruzando este ano a linha nos calcanhares do companheiro de equipa Filipe Cardoso. Provou estar ao mais alto nível na estreante Serra do Larouco ao finalizar em 2014 em 10º e este ano em 4º lugar. Esteve ainda na discussão de mais etapas, mostrando que as jornadas mais duras são o terreno propício para exibir as suas qualidades de trepador, fazendo frente a investidas de adversários e apresentando fortes contra-ataques que o levam à quase vitória na meta.

Contudo, os últimos vencedores da Volta têm-se revelado exímios especialistas no outro factor fundamental para a vitória da geral. O contra-relógio tem marcado o tempo que distancia os corredores de chegarem ao almejado troféu. Longe de ser a sua especialidade, Joni Brandão mostrou este ano uma vontade ainda maior de querer anular esse factor desfavorável ao cumprimento do seu objectivo, perdendo 1m24s para Gustavo Veloso em comparação aos 2m27s perdidos em 2014. Embora contra-relógios diferentes, de quilometragem e terreno distinto, reflectiram no jovem luso uma melhoria significativa quando o sonho da amarela está mais perto de ser alcançado. Em 2015, o troféu ficou à distância de 2m12s, tempo que ditou a distância do seu 2º lugar para Veloso na geral da Volta a Portugal.

Nunca como no presente ano esteve tão próximo de alcançar a vitória mais ambicionada de todas pelos ciclistas do pelotão nacional. Muitos pedalam uma vida inteira sem conseguir tal feito. Joni Brandão impõe-se como um sério candidato, não só pelo desempenho relevante nas recentes edições como também pelo trilho pedalado desde as camadas mais jovens.

Formou-se em São João de Ver e neste clube de Santa Maria da Feira começou a sentir o sabor dos triunfos já em juvenil no ano de 2003. Mais tarde, ganhou em 2006 o Prémio Revelação em juniores. De escalão em escalão foi tomando forma um ciclista com qualidades de ganhador, luzindo em sub-23 o bronze nos Campeonatos Nacionais de fundo de 2010, ano em que segurou o 2º lugar na Volta a Portugal do Futuro e viveu a Volta a Portugal entre os profissionais pela Selecção Nacional. No ano seguinte consolidou o trabalho de formação feito até então alcançando o brilho da importante vitória na Volta a Portugal do Futuro, sendo novamente chamado à Selecção para estar presente na Volta dos profissionais.

O valor era indiscutível e do estrangeiro surgiu a oportunidade de correr na Burgos BH, saindo de Portugal em 2012 para a equipa espanhola, uma experiência que recordamos não ter sido do seu total agrado, como nos disse Joni Brandão numa curta entrevista no início de 2013, ano de regresso ao pelotão nacional pela Efapel onde permanece até aos dias de hoje. Na equipa continental lusitana já alcançou em 2013 o título de campeão nacional de fundo frente ao internacional Tiago Machado (Katusha), temporada na qual finalizou na 6ª posição o Tour de Azerbaidjan. Em 2014 voltou a estar em destaque nos Nacionais sendo 5º na prova de fundo e de contra-relógio. Destacou-se ainda pelo referido 4º lugar na Volta a Portugal e também pelo 8º lugar na Klasika Primavera Amorebieta.

Em 2015, afirmou-se em diversas corridas: vencedor da Volta ao Alto Tâmega, 2º no Campeonato Nacional de fundo, apenas superado por Rui Costa (Lampre-Merida), 2º na Volta a Portugal, 4º no Grande Prémio Jornal de Notícias, 4º no Grande Prémio Beira Baixa, contando ainda a nível internacional com o 8º lugar na Vuelta a Madrid e fechando o mês de Agosto no 3º lugar do Ranking APCP Ciclista do Ano. O caminho de Joni Brandão tem sido pedalado de forma consistente, revelando um forte potencial para rumar a uma equipa internacional, quem sabe na próxima temporada.

Joni Brandão na Pista da Malveira (© Helena Dias)
Joni Brandão no Circuito da Malveira (© Helena Dias)

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(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)

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